Como tudo, cozinhar tem diferentes conceitos, estes diferem de pessoa para pessoa, e com tal, há que goste, há quem não goste, há quem ache uma verdadeira seca e há quem adore... são opiniões, e apesar de cozinhar ser a minha verdadeira paixão, não torna este facto discutível... embora sinceramente me custe muito a perceber como é que é possível haver quem não se sinta contagiado pela fascinante arte de cozinhar, de conjugar aromas, sabores, cores e perfumes, de todo o ritual da preparação de um prato, da emoção e excitação de procurar um perfeito equilíbrio dos ingredientes e assim ver nascer novos sabores, pratos, cozinhas, de não ficar maravilhado com toda a alquimia, quase magia que se passa numa cozinha.... Mas, enfim são opiniões!! No entanto o que não é discutível é o prazer da mesa, porque sejamos sinceros, quem não encontra alegria em prato algum, têm um grave problema, pois o tempo em que a alimentação era um mero acto de subsistência já lá vai há muito.....  E assim porque o mundo da cozinha é vasto, para todos os que não gostam de cozinhar, para todos os que não têm tempo e para todos os outros não queria deixar de partilhar uma cozinha inventiva, original, alegre, colorida, musical, e muito... minha!!!

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Um país que não é meu mas é como se fosse - uma espécie de crónicas de viagem






 Rua típica de bares de tapas, Burgos









Há sítios que marcam a nossa infância, para mim, mais do que tudo, mais do que o sítio onde passo todos os Verões, mais do que o Algarve onde vivi até aos meus 4 anos, mais do que qualquer terrinha dos Alentejos, Ribatejos, Beiras, e afins (e que atenção, adoro de morte), o meu primeiro sítio de eleição é uma vila no centro norte de Espanha, chamada Burgos.
casa típica de presuntos e chorizos
Fizemos a viagem até ao sul de França de carro, o que permitiu passar por várias "capelinhas" entretanto, de maneira que os dois primeiros dias (e os últimos dois) foram passados em Espanha. É engraçado mas mal ponho os pés em terras espanholas, seja elas quais forem, já conhecidas ou completamente novas, entro numa felicidade quase plena. Da língua já um pouco esquecida, à alegria, energia e estado de espírito daquele povo, ao bom gosto presente por todo o lado, e ao próprio ambiente que emana em cada vilazinha ou cidade... "m'encanta"
E assim passamos por Salamanca, Tordesillas, Valladodlid, BURGOS, Bilbao e San Sebastian antes de chegar a França, e embora só conhecer duas das cidades, todos elas me fizeram a sua maneira recordar momentos muito importantes da minha infância e acima de tudo momentos muito felizes. E claro está, como nem podia deixar de ser, a comida não e excessão a trazer de volta um sem fim de memórias.







Desde pequenina que comecei a comer presunto, queijo manchego, queijo de burgos, tortilla com tomate frito e um sem fim de petiscos tipicamente espanhóis pelos quais sempre fui louca. A verdade é quando penso em comida espanhola penso sempre em "picar", isto é nas tapas, pintxos e cazuelitas... o que está completamente errado porque a cozinha espanhola é riquíssima, e muito variada, pois tal como a cozinha portuguesa que apesar de elementos de ligação gerais difere de região para região. E esta magnifica cozinha é responsável inclusive por algumas das melhores refeições da minha vida!! O que acontece é que tudo o que em tamanho pequeno sempre me seduziu mais do que qualquer coisa, e de facto as tapas são chamadas pelos espanhóis, como cozinha de miniatura. Depois todo aquele ambiente que gira em torno dos barzinhos de tapas, de todas aquelas barras e tabernas é de uma alegria tão pura, a simples capacidade de transformarem a tradição e a rotina numa enorme animação sempre me fascinou, e é capaz de ser mesmo uma as minhas coisas preferidas deste país, uma cultura que se enraizou de certa forma na minha família e por isso esteve sempre bastante presente para mim, mesmo vivendo em Portugal. 
Embora haja quem diga que as tapas são herança dos árabes, os espanhóis defendem que as tapas são tradicionalmente do país basco*, mas sendo tão apreciadas, depressa se tornaram parte da cultura gastronómica de todo o país, apesar do país basco nunca ter deixado de ser considerado o rei das verdadeiras tapas. A esta actividade de ir em bar em bar, ou de taberna em taberna os bascos chamam "txikiteo", ou "poteo", nome dos copos de barro onde bebiam o vinho ou cerveja, o qual vinha sempre acompanhado com algum petisco (supostamente nestas zonas os principais trabalhos eram muito árduos, e era frequente comerem muito pouco durante o dia, assim os petisquinhos serviam também para deixar que as bebidas "não caíssem mal"), tradicionalmente é uma actividade social, feito com um grupo de amigos ao final do dia antes do jantar, nos dias de hoje substituem muitas vezes as refeições.

Tortilla



Bar de Tapas em San Sebastian


As tapas podem ser servidas quentes ou frias, em diferentes formas (embutidos, pintxos, cazuelitas, banderillas, platillos, bocadillos...) e diferem de região para região. Qualquer cidadezinha espanhola que se preze, principalmente no centro e norte, tem uma ruazinha só com bares de tapas, e é aí que devem ir, pois como acontece em todo o lado, principalmente nas cidades mais turísticas, existem sempre algumas tabernas feitas única e exclusivamente para os turistas onde os preços são mais que inflacionados e é tudo uma bela de uma tanga, que não tem comparação com as verdadeiras tapas. 
Ao princípio as tapas eram apenas azeitonas, simples ou recheadas, fatias de presunto e morcela (como a morcilla de Burgos que é delicioooooooooosa), queijos, tortillas, legumes marinados e pouco mais servidos em pratinhos ou fatias de pão. Com o tempo foram incorporados outros embutidos como as empanadas e outros à base de frutos do mar e peixes em conserva e logo a seguir vieram também os pimentos, os cogumelos recheados, os ovos, os molhos e todos os detalhes de finalização. Com o desenvolver na gastronomia os modos de apresentar as tapas foram mudando ligeiramente, sendo como é natural que foram ficando umas para trás e adicionando outras, como os pratos típicos das regiões servidos em porções mais pequenas.


Croquetas de Jámon

Calamares



A verdade é que as tapas encantam tudo e todos, são práticas, rápidas e deliciosas, e hoje em dia espalharam-se de certa forma um pouco por todo o mundo na dita "Finger food" e é adaptada por tudo visto que as principais linhas orientadoras são apenas a imaginação e o gosto pela comida.

(*  que se estende ainda por parte de França, o que é muito curioso de ver o casamento da cultura mais "despreocupada" do próprio país basco, mas aespanholada por natureza com a cultura francesa mais "austera")

Morcilla de Burgos


Cojonudos



E para finalizar, depois de toda a alegria que Espanha me dá, sinto que devo partilhar um bocadinho, e como tal vou dar uma receita, a receita das minhas tapas preferidas, típicas de Burgos (como nem podia deixar de ser), os Cojonudos. Cojonudos, traduzido é um palavrão, não vou dizer qual, porque se pensarem um bocadinho chegam lá, a razão para este nome é porque são muito muito picantes e então cada vez que alguem comia, dizia "Cojones"!!! Hoje em dia é um nome banal, e ninguém leva a peito ou fica escandalizado como provavelmente aconteceria para os nossos lados... mas o que importa é que é mesmo bom, exprimentem:


(vou por com os ingredientes tradicionais, depois poderá aportuguesar a questão)

1 baguete
1 chorizo picante
1 embalagem de pimentos piquillo
6 ovos de codorniz

Cortar a baguete em 6 fatias em viez. Colocar no forno a tostar ligeiramente.
Cortar o chorizo em rodelas em cerca de 1cm, se for grande, partir em metades. Colocar o chorizo numa plancha (espécie de placa, grelhador sem as ripinhas) até ficar cozinhado o suficiente (não em demasia para não ficar duro).
Cortar os pimentos piquillo em tiras de meio centímetro de espessura, e fritar ligeiramente em pouco azeite.
Fritar os ovos de codorniz em azeite.
Montar conforme a figura acima. 

Se subtituir o chorizo por morcilla, chamam-se cojonudas

Acompanhar com um vinho tinto, uma canha ou uma cidra, 

Espero que gostem e até breve. 

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